A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) apresentam a pesquisa inédita Mobilidade urbana e logística de entregas: Um panorama sobre o trabalho de motoristas e entregadores com aplicativos. Pela primeira vez, pesquisadores tiveram acesso a registros administrativos das empresas associadas à Amobitec sobre o ganho dos trabalhadores e a quantidade de horas realizando viagens ou entregas no Brasil.
Essa base de informações serviu também como ponto de partida para a realização de uma pesquisa nacional com amostra aleatória e representativa regionalmente com 3.025 profissionais, sendo 1.507 entregadores e 1.518 motoristas, que puderam avaliar seu trabalho usando as plataformas, relatar aspectos de seu cotidiano e relevar informações sobre histórico profissional. Os dados foram coletados no período de agosto a novembro de 2022.
Entre os principais resultados obtidos, verificou-se que há cerca de 1,660 milhão de pessoas trabalhando como motoristas e entregadores por meio de aplicativos no Brasil, sendo 1.274.281 motoristas e 385.742 entregadores.
A remuneração média mensal estimada para as duas categorias representa ganhos superiores aos praticados pelo mercado para pessoas com o mesmo perfil socioeducacional em jornadas integrais. A renda líquida média dos motoristas varia entre R$ 2.925 e R$ 4.756 e, para os entregadores, entre R$ 1.980 e R$ 3.039 estimando uma jornada de 40 horas semanais. A variação ocorre conforme o tempo de ociosidade (período em que estão online nos aplicativos sem realizar corridas ou entregas). O salário-mínimo no período da realização da pesquisa era de R$ 1.212.
Em relação à jornada, os motoristas trabalham em média entre 22 e 31 horas semanais, enquanto a jornada dos entregadores oscila entre 13 e 17 horas semanais, nos dois casos a variação ocorre considerando tempo de ociosidade. Vale lembrar que as estratégias de engajamento variam muito entre os trabalhadores. Alguns têm as plataformas como trabalho exclusivo, outros como trabalho complementar.
“Em um momento em que governo, trabalhadores e empresas se preparam para discutir maneiras de regular o trabalho em plataformas, percebemos que há na sociedade um desconhecimento muito grande sobre esse tipo de atividade e esperamos contribuir para o debate com informações precisas e abrangentes”, explica André Porto, diretor-executivo da Amobitec.
Para Victor Callil, coordenador de pesquisas do CEBRAP, o estudo é de interesse público. “Ele aborda o campo de trabalho que se abriu a partir da oferta de aplicativos, desenvolvidos por empresas de tecnologia, para mediar atividades de transporte e logística. Trazendo novas informações, esta publicação se soma a outras pesquisas da área, que já investigam estes trabalhadores com metodologias diferentes. O intuito de ampliar o conhecimento sobre as características relacionadas ao trabalho desempenhado por motoristas e entregadores, é ajudar a pensar quais são as ações privadas e políticas públicas que podem ser desenvolvidas para produzir um mercado de trabalho justo e coerente com os anseios da sociedade.”
MOTORISTAS
De acordo com a pesquisa, embora 43% dos motoristas estivessem desempregados, 57% tinham uma atividade econômica prévia ao iniciarem o trabalho por meio de plataformas, a maioria com registro em carteira. Desses, 31% a mantiveram depois de começar as atividades com os aplicativos e 26% abandonaram essa atividade prévia para se dedicar exclusivamente aos aplicativos.
Nas entrevistas, embora a maioria (63%) trabalhe exclusivamente com os aplicativos, 37% dos motoristas afirmaram ter outro trabalho concomitante à atuação nos aplicativos, dado que reforça a flexibilidade neste tipo de atividade, característica apontada como uma das principais vantagens dos aplicativos por 72% dos motoristas. Ainda segundo a pesquisa, cerca de 60% dos motoristas não estão buscando outra ocupação e querem continuar trabalhando com as plataformas.
Em relação ao engajamento dos motoristas nos aplicativos, os dados administrativos das empresas mostraram que a jornada média semanal de trabalho é de 4,2 dias – com uma média entre 22 e 31 horas semanais trabalhadas, que variam conforme o mês e o tempo de ociosidade. A pesquisa aponta que tanto os dias quanto o volume de horas trabalhadas tendem a variar com frequência, dependendo de fatores diversos como, por exemplo, outros trabalhos, eventos climáticos ou imprevistos familiares. Além disso, as diversas estratégias de engajamento dos motoristas também contribuem para que a jornada possa ser maior ou menor.
ENTREGADORES
A pesquisa revelou que 67% dos entregadores tinham alguma atividade econômica antes de começar a trabalhar com aplicativos (52% com carteira assinada) e 31% estavam desempregados. Observa-se ainda que mais de um quarto (27%) já trabalhava com entregas, encontrando nas plataformas uma nova alternativa para gerar renda.
No momento da pesquisa, quase a metade dos entregadores afirmou estar exercendo outra ocupação (48%), sendo 50% destes com carteira assinada, enquanto 52% declararam se dedicar exclusivamente aos apps. O dado corrobora a importância dada por 60% dos entregadores à flexibilidade e à autonomia oferecidas pelos aplicativos, seguida pelos ganhos (43% dos respondentes) e pela liberdade de trabalhar com motocicleta (38%). 80% afirmam que pretende continuar trabalhando com as plataformas.
A jornada de trabalho de um entregador é em média de 3,3 dias por semana, com média de horas engajadas entre 13h e 17h por semana, com variações conforme o mês e o tempo de ociosidade. Para a maioria dos entregadores (55%), a média de dias trabalhados e horas logadas varia de acordo com outras ocupações e ocorrências da vida cotidiana.
Os ganhos dos entregadores variam conforme as horas trabalhadas, mas a remuneração média por hora em entrega estimada é de R$ 23.
QUEM SÃO ESSES TRABALHADORES
Montante de motoristas e entregadores de aplicativo no Brasil
Categoria | Nº de trabalhadores |
Motoristas de aplicativos | 1.274.281 |
Entregadores de aplicativos | 385.742 |
Fonte: Pesquisa Cebrap
O perfil identificado entre os trabalhadores é bastante homogêneo. Quase a totalidade é de pessoas do sexo masculino (97% dos entregadores e 95% dos motoristas). A média de idade dos entregadores é de 33 anos, enquanto entre os motoristas é de 39 anos.
Em relação ao nível de escolaridade, a pesquisa revelou que os dois grupos de profissionais têm uma proporção muito parecida de trabalhadores que estão estudando (10% entre entregadores e 12% entre motoristas). Entre os que não estão estudando, predomina profissionais com o Ensino Médio completo (60% entre motoristas e 59% entre entregadores). A maioria trabalhadores se autodeclara pretos ou pardos (68% entre entregadores e 62% entre motoristas)
Fonte: Pesquisa Cebrap
Quase 60% dos entregadores declaram possuir renda familiar mensal acima de 3 salários mínimos. Entre os motoristas, mais de 70% têm essa renda (3 SM), sendo que quase 35% de pessoas entre as que dirigem automóveis declaram renda acima de 6 salários mínimos. Considerando a classe social, 83% dos entregadores estão na classe C ou inferior, enquanto 76% dos motoristas estão nesta condição. Por outro lado, 25% dos motoristas estão na classe B ou superior e entre os entregadores essa proporção é de pouco mais de 15%.
Fonte: Pesquisa Cebrap
A pesquisa amostral abordou também questões relacionadas ao cotidiano. Para 72% dos motoristas, a flexibilidade de dias e horários é uma das principais razões para trabalhar com aplicativos. Em segundo lugar entre as razões mais mencionadas vem não ter chefe com 39% e, em terceiro, os ganhos 28%.
Quase 60% dos entregadores apontam como principal vantagem a flexibilidade de horários. Em segundo lugar aparecem os ganhos obtidos com a atividade (43%) e a liberdade de trabalhar com motocicleta por 38%.
A maior preocupação relatada pelos motoristas foram problemas para encontrar os endereços de destino ou origem das corridas (57%) e dificuldade de contato com clientes (30%). São situações que podem estar associadas a diversas questões, desde informações erradas inseridas pelo próprio passageiro ou passando por falhas de conectividade da rede celular. Outras questões, em menor proporção, estão relacionadas ao ambiente de trabalho e à dinâmica das ruas, como o envolvimento em ocorrências de trânsito durante o trabalho com os apps (15%), sofrimento com atos de discriminação (14%) e ser assaltado (9%).
Entre os entregadores as preocupações são similares. O maior problema relatado por eles foi encontrar o endereço de entrega (66%), enquanto em segundo lugar foi apontada a dificuldade de contato com clientes ou a devolução/extravio de mercadorias (51%). Outras questões, em menor proporção, estão relacionadas ao ambiente de trabalho e à dinâmica das ruas, como o envolvimento em ocorrências de trânsito durante o trabalho com os apps (25%), sofrimento com atos de discriminação (18%) e ser assaltado (8%).
Os registros administrativos usados nesta pesquisa foram fornecidos pelas empresas associadas da Amobitec Uber, iFood, 99 e Zé Delivery e abrangem o período de um ano, entre maio de 2021 até abril de 2022. A seleção de dados utilizados na pesquisa respeitou a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) – todos os dados foram compartilhados e analisados de forma agregada, sem identificação individual de cada motorista ou entregador.
Acesse aqui o relatório pocket da pesquisa Mobilidade urbana e logística de entregas: Um panorama sobre o trabalho de motoristas e entregadores com aplicativos.
A versão completa do relatório pode ser acessada aqui.
Sobre a Amobitec
Fundada em 2018, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia – Amobitec é uma entidade que reúne empresas de tecnologia prestadoras de serviços relacionados à mobilidade de bens ou pessoas, como intermediação de viagens de transporte individual privado, aluguel de equipamentos de micromobilidade, conexão de pessoas com empresas de fretamento coletivo, além de aplicativos de mobilidade como serviço. Entre suas associadas estão Uber, 99, 99 Food, Ifood, Buser, Flixbus, Lalamove, Amazon.
Sobre o Cebrap (realizador)
Instituto de pesquisa científica e aplicada, fundado em 1969 por um grupo multidisciplinar de professores afastados da universidade pela ditadura militar. Carrega nas suas práticas contemporâneas a essência dos impulsos de sua criação: é um espaço de produção de conhecimento crítico e independente. Hoje o Cebrap é um centro de pesquisa globalizado, com cerca de 40 pesquisadores permanentes e 80 associados. Encontra- se entre os principais think tanks em políticas públicas, segundo estudo da University of Pennsylvania.
Ficam convocadas as Associadas, nos termos dos artigos 53 a 61, da Lei nº 10.406/2002 (Código Civil Brasileiro),…
A Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) participou de forma propositiva e construtiva do Grupo de Trabalho…
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